sexta-feira, 7 de setembro de 2012

O embrulho reluzente



LUCIANO ORNELAS

Em tempos passados – especialmente nas décadas de 70 e 80 - sucessivos
governos militar e civil costumavam premiar o distinto público brasileiro com o anúncio
de pacotes econômicos, políticos ou sociais. Logo os tais pacotes eram rotulados de
bombas a serem anunciadas pelo governo. Assim que se desembrulhava um pacote,
percebia-se que se tratava apenas de traque.
Ou não tinha importância, ou as medidas eram inexequíveis (ninguém respondia
a “quanto custa, quem paga”), porque não havia respostas. Na verdade, eram anúncios
de intenções sem nenhuma valia, para dourar pílulas insossas, sem recheio, ou ainda
para vender produtos de Primeiro Mundo a uma população em sua maioria miserável,
faminta. Uma miragem num país reprimido pela ditadura militar ou desorientado pela
volta à saúde civil.
É certo que alguns pacotes vinham com TNT pura, como o Plano Cruzado
do Sarney e ou o confisco promovido pela dupla Collor de Mello/Zélia Cardoso de
Melo. Mas aí o País dava o troco em desprezo ou em impeachment. A história costuma
ser cruel com os algozes do bolso – mas, no Brasil, tem sido benevolente com esses
personagens.
O que importava então era a propaganda, a manipulação à lá Goebbels. Ainda
que tais pacotes fossem destrinchados por editoriais e colunas, mostrando que o pacote
levaria nada a lugar nenhum, o certo é que as medidas estavam em todas as manchetes
dos jornais e nos horários mais nobres dos telejornais. E não é o que importa, fazer
um lindo pacote para um produto ordinário? O povo compra, põe debaixo do braço e
consome em conversas em casa, no trabalho, no chope com os amigos. O brasileiro é,
como sempre, muito bonzinho.
A história contemporânea vem apenas confirmar que o Brasil “está onde sempre
esteve e não arredará pé um milímetro sequer” – frase atribuída ao político mineiro
José Maria Alkmin sobre a posição política de seu Estado diante de um quadro de crise
nacional.
O Partido dos Trabalhadores veio com seu grande líder Luiz Inácio Lula da Silva
para demonstrar uma antiga tese francesa de que tudo muda para que tudo continue
igual. Os usos e costumes não mudaram, muito pelo contrário. O antigo PSD (não esse
genérico do Kassab) é a cara do atual PT e vice-versa. E os ideários de Sarney, Lula e
Collor se encontram na mesma esquina. Dizem que dinheiro não tem ideologia – deve
ser verdade.
O fato é que os pacotes de hoje são uma pura repetição dos pacotes insossos de
outrora. Basta rasgar o papel reluzente para se constatar que o produto é tão ordinário
como os seus similares, de pac-em-pac. Quantas vezes, ao longo da história, não se
ouviu um ministro da Educação anunciar medidas “definitivas” para melhorar o ensino
nas escolas e acabar de vez com o analfabetismo? A miséria em nossas periferias é uma
moeda preciosa quando se anuncia também “o fim dos contrastes sociais”. As medidas
em pacotes são assim, resolvem qualquer problema com uma canetada.
Enfim, não há horizonte azulado nos cenários descortinados pelo recente
pacote da presidente Dilma Roussef, a não ser o fato político de que deixou de lado o
preconceito ao fazer concessões à iniciativa privada. Mas ainda há pontos obscuros,
como a rentabilidade dos negócios, por exemplo. O próprio Lula já fez isso e deu quase

em nada além de novas praças de pedágio. Pelo andar das carruagens, caminhões e trens
de carga, a infraestrutura dos transportes, sempre relegada ao segundo plano, continuará
neste buraco de fazer gosto. É o traque da vez.
O cemitério acaba de ganhar mais um componente em sua ala de boas intenções.
Ou a presidente Dilma acaba de receitar uma aspirina para as dores do mensalão.

Luciano Ornelas é jornalista da GT Marketing e Comunicação

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