sábado, 29 de setembro de 2012


CACARECO DE GRAVATA

Luciano Ornelas

É um circo dos horrores esse desfile de candidatos a vereador na campanha
eletrônica pelo País: tem de tudo, até um Bin Laden, numa espantosa demonstração
de que nossa democracia representativa começa no grande picadeiro das eleições
municipais. Eles prometem de tudo, o que não importa – mesmo eleitos, nada
cumprirão. Nem eles nem os mais arrumadinhos, de terno, gravata e frases de efeito,
desses que parecem entender do riscado de executivo e legislativo, com promessas de
curar num passe de mágica todos os males nacionais.
Mais triste ainda é a constatação de que essa é a imagem da política brasileira
refletida no espelho. Entra-se para tirar proveito e pronto. Não há nada de sério, com as
exceções que confirmam a regra. A ordem geral é explorar a boa-fé ou a ingenuidade
do eleitor, que protesta: se assim é, o voto também não precisa ser sério. Uma vez os
paulistanos votaram em massa no rinoceronte Cacareco, então hóspede do zoológico
de São Paulo; de sua parte, os cariocas preferiram o macaco Tião – e assim Cacareco e
Tião foram elevados à condição de excelências.
Podemos comparar as figuras exóticas de hoje com as do passado recente, como
o falecido médico Enéas Carneiro ou o palhaço Tiririca. No primeiro caso, o do “Meu
Nome é Enéas”, o médico nada tinha de caricato além da careca e da barba negra:
descobriu uma fórmula de se comunicar no grito e conseguiu apelo popular pelo viés da
extravagância. Foi eleito com mais de um milhão e meio de votos. Constatou-se depois
que era um homem autoritário, histriônico defensor da bomba atômica. Enfim, mais um
espertalhão entre tantos.
Na última eleição, o Cacareco da vez foi Tiririca, eleito deputado federal com
1,35 milhão de votos válidos, um fenômeno. Pensou-se, a princípio, que era apenas
mais um oportunista, um prosaico e ingênuo palhaço profissional em busca do ótimo
salário e de todas as mordomias ofertadas pelo Congresso Nacional.
Que nada, era bem pior do que isso. A candidatura de Tiririca – em razão de sua
exposição em programas populares de tevê – foi cozinhada no fogo alto da ganância
desmedida de políticos profissionais, desses que emolduram a política com o desenho
do inferno e as cores da safadeza. O fato é que Francisco Everardo Oliveira Silva, o
Tiririca, chegou ao Congresso Nacional como a maior piada da política brasileira.
O palhaço foi “descoberto” pelo deputado federal Valdemar da Costa Neto (Boy
por apelido, filho de um ex-prefeito de Mogi das Cruzes), secretário-geral e um dos
donos do PR, Partido da República. Numa pesquisa, Boy descobriu que Tiririca poderia
ter mais de um milhão de votos e assim arrastar mais um monte de candidatos sem
votos. E sem nenhuma representação popular. Acertou na mosca.
Ou seja, Tiririca foi usado (mas não tanto) para dar mais uma pernada na boa-fé
do povo. E hoje já não acha tanta graça de seu trabalho em Brasília: “Não levo o menor
jeito para a coisa. Já entendi como funciona, não sou bobo, mas não gosto desse jogo
de interesses. Eu não consigo ser falso assim. E aqui a sinceridade não é muito bem-
vinda”. Nem a honestidade, caro palhaço.
Valdemar da Costa Neto, seu criador, é réu do mensalão e responde a processos
por corrupção passiva, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Aliado e amigo do
peito de Lula, claro. Ao ser denunciado, em 2005, Boy renunciou para evitar a cassação
de seu mandato. Mas foi reeleito no ano seguinte em seu reduto no Alto Tietê, em que

o voto de cabresto ainda tem muita valia, como no tempo dos coronéis. Que a pena no
STF, se vier, esteja à altura de seus malfeitos para ajudar a passar uma borracha no lado
sujo da política.
Os eleitores, em vista de passado tão negro, terão um trabalho dobrado antes
de se dirigir às urnas em outubro: descobrir se seu candidato, exótico ou não, merece
realmente a distinção de seu voto: e se, por outro lado, tem um boy qualquer por
criador.

*Luciano Ornelas é jornalista da GT Marketing e Comunicação

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

O álcool de minha avó




(Um cheiro de lobby)

Minha avó sempre recomendava após a picada de um inseto: “Passa
álcool”. Tinha aprendido com a mãe dela, minha bisa. O vidro de álcool,
hoje de plástico, ficava bem à mão e servia de remédio para um monte
de coisas com suas mil e uma utilidades, como essa palha de aço da
propaganda.
De repente vinha aquela coceira incômoda ou a vermelhidão
no braço ou no pescoço – e dá-lhe álcool líquido. Ardia, mas resolvia.
Minha avó conhecia bem as propriedades antibacterianas, antissépticas e
desinfetantes do álcool – e passou a sabedoria à minha mãe, que repassou à
minha irmã, que a repassará à filha, que vai explodir e passará para o outro
mundo, segundo a Anvisa, que pretende proibir o produto em questão. Mas
aí é outra história, como se verá.
O álcool canforado, então, era remédio pra tudo. O milagre desta
solução caseira se fazia ao jogar umas pedrinhas de cânfora no álcool bom,
de 96 G/L (92.8 INPM) - não esse gel a 46 G/L, usado para higienizar as
mãos em hospitais; tão fraquinho, mas tão fraquinho, que nem fogo acende.
Depois, o álcool forte servia para tudo: frieira, dedinho quebrado,
galo na cabeça, dor de ouvido, resfriado, mau jeito nas costas. Qualquer
coisa era tratada (e quase sempre curada) com álcool canforado.
Artrite, eis o exemplo da inflamação de uma articulação, quase
sempre causada por uma contusão: causa febre, língua branca, sede,
dor e inchaço da região afetada e insônia. A sabedoria popular sempre
recomendou aplicar cataplasma de linhaça ou de fécula de batata, banhos
quentes e fricção com álcool canforado. Tiro e queda.
Mas o álcool puro, como sabe toda boa dona de casa, é o número um
entre os produtos de higiene e limpeza. Não há mancha, qualquer que seja
a superfície, que resista ao álcool 96 G/L. Aquele cheiro ruim nas mãos,
louças e metais opacos, passa álcool. Sabão não tira, recorre ao álcool.
Conhecido pela Humanidade há mais de oito mil anos, o álcool
é usado em bebidas como cerveja, vinho ou cachaça e na indústria de
perfumaria. E, claro, como combustível – nesse caso, um bem para a
natureza, uma fonte de energia renovável, ao contrário dos derivados de
petróleo.
Evidente que o álcool, como bebida, é um perigo e vale o conselho:
moderação. Quando consumido em alta dosagem e por longos períodos,
causa a síndrome da dependência (conjunto de sintomas). Sabe-se como se
morre de cirrose e outras graves doenças.

Na Idade Média, os árabes introduziram na Europa a técnica da
destilação, ao mesmo tempo em que se disseminava, naquele ambiente
cultural, a crença de que o álcool era o remédio para todos os males. Hoje,
sabe-se que o uso terapêutico do álcool é muito reduzido, mas seu uso
social é imenso. E o alcoolismo nada cura, apenas apressa a caminhada
nesta passagem pela Terra. Não é o caso nem devemos misturar usos e
costumes entre o álcool caseiro e o das bebidas.
O fato é que a Anvisa investe mais uma vez e prega a abolição do
álcool 96 /GL para o público. Alega que a garrafa de álcool pode explodir
e causar sérios acidentes. Pessoas descuidadas essas que não sabem do
alto poder de combustão do produto. Como o leitor sabe bem, notícias
de acidentes com álcool são raríssimas: de minha bisa até os dias de hoje,
nenhum acidente ocorreu em nosso quintal.
A Anvisa deveria ampliar os horizontes de seu interesse, caso queira
mesmo proteger a saúde dos brasileiros: poderia começar por recomendar
a retirada das portas dos armários de cima das cozinhas - uma topada de
cabeça com a quina de uma porta é terrível. Mais ainda a trombada com
a quina de uma tampa de mármore da pia no banheiro, uma das causas
mais comuns de acidentes domésticos. Cuidado: tapetes na casa provocam
quedas. Então, que se proíbam os tapetes, ou as casas. Pelo menos o
quesito “moradia” seria banido das promessas eleitorais.
Medida ainda mais acertada seria proibir a bebida alcoólica no
País: o sistema nacional de saúde deixaria de gastar bilhões de reais no
tratamento dos bêbados. E a sociedade poderia respirar aliviada ao saber
que não será mais vítima desses assassinos que, embriagados, assumem
um volante e matam sem dó nem piedade. Já que a Lei Seca não resolve,
a Anvisa que faça valer o seu poder para preservar a integridade dos
cidadãos.
O Conselho Nacional de Saúde recomendou a aprovação do Projeto
de Lei nº 692/2007, que dispõe sobre restrições do acesso e venda do álcool
líquido de uso doméstico. O projeto está na Comissão de Constituição e
Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados. Seus argumentos:
-- em 2002, a Resolução RDC nº 46 da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou a substituição do álcool líquido
acima de 46° de porcentagem de álcool em peso ou grau alcoólico
(INPM) pela versão gel e deu prazo de seis meses para os fabricantes se
adaptarem ao novo formato. No período em que o produto parou de ser
comercializado, o número de acidentes com álcool caiu 60%. O número de
internações hospitalares e a gravidade das queimaduras tiveram redução de
26%.
-- a medida foi suspensa por meio de liminar da justiça e assim é
necessária a regulamentação do tema na forma de lei. A norma contribuirá
para a preservação da vida de milhares de pessoas, entre elas crianças,

vítimas das graves queimaduras causadas pelo uso inadequado do álcool.
Mas a Nota Pública do CNS não informa a base de seus cálculos:
são números ridículos ou alarmantes comparados a outros acidentes
domésticos da população brasileira? Sem isso, os números apresentados
ficam sob suspeita. E suas intenções, mais ainda. Se o desejo é realmente
o de preservar vidas, que se proíbam todos os itens perigosos à venda no
varejo. Como facas ou desentupidores domésticos, desses à base de soda
cáustica, produto altamente corrosivo, que pode produzir queimaduras,
cicatrizes e cegueira. A soda cáustica está à venda livremente no comércio;
em supermercados, junto a produtos de limpeza.
Enfim, o que estranha é o casuísmo da proposta nesse quadro
nebuloso da burocracia petista.
E em vez do cheiro do álcool, a polêmica exala muito mais um
cheiro de lobby.

O embrulho reluzente



LUCIANO ORNELAS

Em tempos passados – especialmente nas décadas de 70 e 80 - sucessivos
governos militar e civil costumavam premiar o distinto público brasileiro com o anúncio
de pacotes econômicos, políticos ou sociais. Logo os tais pacotes eram rotulados de
bombas a serem anunciadas pelo governo. Assim que se desembrulhava um pacote,
percebia-se que se tratava apenas de traque.
Ou não tinha importância, ou as medidas eram inexequíveis (ninguém respondia
a “quanto custa, quem paga”), porque não havia respostas. Na verdade, eram anúncios
de intenções sem nenhuma valia, para dourar pílulas insossas, sem recheio, ou ainda
para vender produtos de Primeiro Mundo a uma população em sua maioria miserável,
faminta. Uma miragem num país reprimido pela ditadura militar ou desorientado pela
volta à saúde civil.
É certo que alguns pacotes vinham com TNT pura, como o Plano Cruzado
do Sarney e ou o confisco promovido pela dupla Collor de Mello/Zélia Cardoso de
Melo. Mas aí o País dava o troco em desprezo ou em impeachment. A história costuma
ser cruel com os algozes do bolso – mas, no Brasil, tem sido benevolente com esses
personagens.
O que importava então era a propaganda, a manipulação à lá Goebbels. Ainda
que tais pacotes fossem destrinchados por editoriais e colunas, mostrando que o pacote
levaria nada a lugar nenhum, o certo é que as medidas estavam em todas as manchetes
dos jornais e nos horários mais nobres dos telejornais. E não é o que importa, fazer
um lindo pacote para um produto ordinário? O povo compra, põe debaixo do braço e
consome em conversas em casa, no trabalho, no chope com os amigos. O brasileiro é,
como sempre, muito bonzinho.
A história contemporânea vem apenas confirmar que o Brasil “está onde sempre
esteve e não arredará pé um milímetro sequer” – frase atribuída ao político mineiro
José Maria Alkmin sobre a posição política de seu Estado diante de um quadro de crise
nacional.
O Partido dos Trabalhadores veio com seu grande líder Luiz Inácio Lula da Silva
para demonstrar uma antiga tese francesa de que tudo muda para que tudo continue
igual. Os usos e costumes não mudaram, muito pelo contrário. O antigo PSD (não esse
genérico do Kassab) é a cara do atual PT e vice-versa. E os ideários de Sarney, Lula e
Collor se encontram na mesma esquina. Dizem que dinheiro não tem ideologia – deve
ser verdade.
O fato é que os pacotes de hoje são uma pura repetição dos pacotes insossos de
outrora. Basta rasgar o papel reluzente para se constatar que o produto é tão ordinário
como os seus similares, de pac-em-pac. Quantas vezes, ao longo da história, não se
ouviu um ministro da Educação anunciar medidas “definitivas” para melhorar o ensino
nas escolas e acabar de vez com o analfabetismo? A miséria em nossas periferias é uma
moeda preciosa quando se anuncia também “o fim dos contrastes sociais”. As medidas
em pacotes são assim, resolvem qualquer problema com uma canetada.
Enfim, não há horizonte azulado nos cenários descortinados pelo recente
pacote da presidente Dilma Roussef, a não ser o fato político de que deixou de lado o
preconceito ao fazer concessões à iniciativa privada. Mas ainda há pontos obscuros,
como a rentabilidade dos negócios, por exemplo. O próprio Lula já fez isso e deu quase

em nada além de novas praças de pedágio. Pelo andar das carruagens, caminhões e trens
de carga, a infraestrutura dos transportes, sempre relegada ao segundo plano, continuará
neste buraco de fazer gosto. É o traque da vez.
O cemitério acaba de ganhar mais um componente em sua ala de boas intenções.
Ou a presidente Dilma acaba de receitar uma aspirina para as dores do mensalão.

Luciano Ornelas é jornalista da GT Marketing e Comunicação

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Quando o passado se faz presente

NOSSOS ROBÔS Primeira Lei da Robótica: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por omissão, permitir que um ser humano sofra algum mal. Segunda Lei: Um robô deve obedecer as ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens contrariem a Primeira Lei. Terceira Lei: Um robô deve proteger sua própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira e a Segunda Leis. Lei Zero: Um robô não pode causar mal à Humanidade ou, por omissão, permitir que a Humanidade sofra algum mal, nem permitir que ela própria o faça. O escritor Isaac Asimov concebeu as leis da robótica logo no primeiro dos 500 livros de ficção científica que escreveu ao longo de sua vida. Bioquímico, Asimov nasceu na União Soviética, mas sua família mudou-se para os Estados Unidos quando ele tinha apenas três anos. Seu livro mais conhecido é Eu Robô, onde a obediência às três primeiras leis conduzem todo o comportamento de seus personagens. A quarta lei seria incorporada mais tarde, com o avanço da tecnologia e seu uso cada vez mais intensivo para fins bélicos. É um livro imperdível e fonte de outros escritores de ficção científica. Todos os autores procuraram seguir as leis da robótica, menos um: o inglês Arthur Clarck violou os três mandamentos em 2001, uma Odisséia no Espaço, onde robôs começam a matar e a congelar os tripulantes da espaçonave. Mas no fim as leis prevalecem. Os robôs de Asimov começaram a ser concebidos ainda na década de 40, quando se supunha que um dia máquinas seriam aperfeiçoadas para substituir alguns trabalhos dos homens. Seus personagens são caricatos, servem café, limpam a casa, fazem ordem unida, marcham como se fossem soldados e obedecem cegamente aos humanos. Embora concebidos à imagem e semelhança do homem, são máquinas feitas em série, alimentadas por óleo cru e precisam de uma boa graxa para o bom funcionamento. E o limite de sua inteligência é estabelecido pelos humanos. Isaav Asimov impõe um ritmo forte de leitura e seus personagens entram e saem de cena com incrível rapidez. Chega um momento em que o leitor se perde, sem saber se entrou em cena um robô ou um ser humano de verdade, tamanha a semelhança que homens e máquinas vão adquirindo ao longo da narrativa. Asimov não foi o princípio nem o fim da ficção científica. Dizem que a busca pela perfeição das máquinas começou ainda em 1775, quando Aristóteles concebeu a primeira boneca mecânica. E ainda hoje os europeus são fascinados por pequenos brinquedos que executam funções humanas. Mas o fato é que o desenvolvimento da Humanidade se processa de forma tão rápida, que alguns livros de ficção científica ficam ultrapassados em pouco tempo. E é fato também que todos esses autores procuram no espaço algumas respostas para os conflitos e as contradições humanas, na eterna busca do desconhecido. Uma das lições de Asimov é a manipulação da inteligência e a fabricação em série de máquinas, da mesma forma como Henry Ford I concebeu a produção de automóveis numa cadeia de montagem e deu início ao moderno processo da era industrial. Os últimos anos de sua vida Asimov passou em palestras pelo mundo afora, explicando suas obras e discorrendo sobre a massificação do ensino, sua maior preocupação na velhice. Um paralelo entre seus personagens e os alunos que saem das faculdades como máquinas, sem talento ou criatividade para fugir daquele labirinto em que foram enfiados para uma lavagem cerebral. A maioria com idéias erradas e preconcebidas. Poucos são os que botam a cabeça para fora da mediocridade geral para tentar enxergar alguma coisa além do horizonte e se colocar no mercado de trabalho em melhores condições. Se essa massificação tem sido tão criticada em países do Primeiro Mundo, imagine-se no Brasil. O Direito é um exemplo. Alguns advogados, já com anos de carreira, mal conseguem de expressar, donde se conclui que podem ter decorado algumas leis, mas não assimilaram nem os rudimentos do português, essencial para quem precisa botar uma petição no papel. Fica difícil para os juízes tentar desvendar o que alguns advogados escrevem. Produzem um emaranhado de letras disformes e descosturadas, idéias confusas e sem nenhuma linha de raciocínio e, ao final, não se sabe se o nobre causídico deseja defender ou condenar seu prezado cliente. Na medicina, não é de hoje que se implora algumas aulas de caligrafia, para que os doutores façam alguma coisa diferente daquele monte de garranchos indecifráveis até para farmacêuticos. No jornalismo, então, nem se fala. Estudantes saem das escolas de comunicação como os soldados robôs de Asimov, produzindo textos iguais, os mesmos vícios, a mesma linguagem de décadas passadas. São jovens cheios de esperança no mercado de trabalho. E ao mesmo tempo tão pobres de idéias e de interesse pela própria profissão, como se o diploma lhes tivesse conferido o talento necessário para o sustento de suas vidas. Nem sabem ainda que só uma boa leitura fornece uma base sólida para suas carreiras. Na verdade, saem foquinhas, no ponto zero da profissão, porque passaram em média quatro anos aprendendo a fazer o que não se faz mais no jornalismo moderno. As empresas de comunicação até que gostam, porque são profissionais sem nenhum valor e aceitam qualquer salário aviltante. Assim se nivela tudo por baixo, a um custo desprezível. Nessa etapa, o importante é um emprego. Alguns pensam que o resto cai do céu. Toda profissão tem os seus robôs, aqueles seres que não conseguem enxergar um palmo à frente do nariz, mas por incompetência ou pobreza de espírito. Pior são jornalistas mais experientes, que se submetem à ditadura de maus patrões, que sequer lhes pagam o salário sagrado em dia, mas continuam a sugar o suor de seu rosto e exigir o trabalho em dobro, na falsa promessa de que um dia as coisas vão melhorar. Esses jornalistas, a esta altura, já perderam o gosto pela profissão e se deixam guiar como manada, ou perderam a capacidade de se indignar. E como desgraça pouca é bobagem, alguns senhores de engenho acham que podem adquirir a preços módicos a consciência de todos os jornalistas. É de um primarismo irritante. Eles não sabem que ficarão presos na memória das redações. É como jogar um bumerangue, e ele voltará certeiro na testa daquele que tentou desviar o profissional da conduta de servir ao seu leitor e à sociedade para o qual trabalha. Afinal, não se deve tentar calar o que foi feito para falar. Isso é próprio da natureza humana. Talvez não seja a dos robôs.

domingo, 8 de julho de 2012

Os grandes Atlético Mineiro e Seu Alcides Ornelas


Domingo é dia de futebol, Luciano está em frente a tv, achei bárbaro o texto abaixo, onde ele fala de sua paixões: futebol, família e trabalho. Sou fã.



LUCIANO ORNELAS


Para que o leitor tenha maior compreensão do que vem a ser a rivalidade entre Atlético e Cruzeiro, em Minas, é importante vasculhar corações mais apaixonados, daqueles que viram tudo nascer, como o meu pai. Vejam bem: o Arraial do Curral del Rei virou cidade de Belo Horizonte e capital do Estado em 1897, fundada por republicanos, que assim tiravam de Ouro Preto a honraria concedida pelos colonizadores.
O glorioso Atlético foi fundado em BH pouco tempo depois, em 1908, por um grupo de garotos que frequentava o Parque Municipal, no centro da cidade. Não os perigosos garotos de hoje, por certo. Meu pai Alcides nasceu na rua Platina, ao lado da igreja do Calafate, seis anos depois, em 1914. Assim, quando começou a entender das coisas, ainda menino, o Atlético já era o primeiro e único vencedor.
Mais tarde, ao contar aqueles anos de glória aos seus seis filhos, Alcides era frio, preciso. Na adolescência jogara no meio de campo pelo Tupinambá, “o melhor time da várzea da história de Belo Horizonte”. Volta e meia o Atlético convidava o Tupinambá para jogos-treino para testar seu poderio. E volta e meia o Tupinambá ganhava. Timaço.
O resto das informações sobre aquele tempo vinha de seus irmãos, tio Mário e tio Nélson:
-- Seu pai não conta direito, é modesto. Ele era um craque com a 10 ali no meio de campo, jogava “o fino”, elegante, não batia em ninguém e colocava a bola onde queria. Estilo Zizinho.
(Thomaz Soares da Silva, o Zizinho, foi um dos mais refinados deuses do futebol brasileiro nas décadas de 40 e 50. Entre outras coisas, ídolo de Pelé. Para encurtar essa história: o jornalista italiano Giordano Fatori, que veio cobrir a Copa de 1950 no Brasil para o jornal Gazzetta dello Sport escreveu: "O futebol de Zizinho me faz recordar Da Vinci pintando alguma coisa rara”. E o Brasil perdeu aquela Copa para o Uruguai com Zizinho e tudo).
De qualquer forma, exagero aquela comparação. Mas meus tios diziam que meu pai sabia de tudo dentro de campo. Seus conselhos a dois de seus filhos, Warley e Nivaldo, eram de muita sabedoria. Seu Alcides levava seus meninos a todos os jogos no campo do Atlético, na Colina de Lourdes. Lá embaixo, no Barro Preto, campo do Cruzeiro, não pisava.


Os de lá

Vale um registro: o Palestra Itália foi fundado em Belo Horizonte em 1921 por integrantes da colônia, como o Palmeiras em São Paulo. Em razão da guerra, mudou o nome em 1942 para Palestra Mineiro. E neste mesmo ano de 42 mudou o nome de novo para Cruzeiro Esporte Clube. Portanto, veio muito depois do Atlético. E se tinha essa crise de identidade em relação ao próprio nome, pode-se imaginar seu caráter vacilante. É possível que venha daí, e das surras inesquecíveis em campo, esse indisfarçável complexo de inferioridade que o Cruzeiro exibe diante do Atlético.


Os de cá

O futebol de várzea era exuberante no começo dos anos 60. Pontificavam grandes times como Monte Castelo, Atlético Suburbano, Cruzeiro do Sul, Hollywood, São Lourenço, Náutico, Benfica, Paulistano, Colombo. E na minha casa na rua Java, Nova Suíça, nasceu o Estrela Negra, que depois virou Ypiranga e desbancou todos os outros. Era imbatível – tinha um Wagner no gol, Warley e Nélson Bochecha no meio de campo, Vladimir de centroavante e o Nivaldo na esquerda. Este, um exímio driblador – fazia um carnaval ali no seu canto, com dribles curtos de futebol de salão. O futebol perdeu-o para a noite – sua vocação era a música.   
Ainda menino, Warley jogava muito como centro-médio do Estrela Negra (essa história de volante veio depois). Tão bem que foi “comprado” pelo Náutico. Valor do passe: um fogão de duas bocas. O presidente do Estrela Negra não admitia a traição, chorava de raiva: era o irmão mais velho, o Nilton. Pois é, na várzea também corria um dinheirinho por fora, nenhuma inocência.
Warley jogou por outros times, voltou ao Ypiranga e dali para o juvenil do Atlético. No meio de campo, insistia meu pai, de peito estufado, orgulhoso.
E mesmo no Atlético o centro-médio continuava a promissora carreira de repórter; era preciso trabalhar. Primeiro na sucursal mineira da Última Hora, depois revista Alterosa, depois Correio de Minas. Na revista, teve uma desavença com seu chefe Roberto Drummond e foi demitido. Vidas cruzadas: logo o Roberto, que fez de mim um repórter na Última Hora. Enfim, desempregado, Warley aceitou o convite do Atlético e se tornou profissional.
Também fiquei desempregado: os golpistas de 64 fecharam a Última Hora. E todos os que estávamos na redação naquela tarde de 4 de abril fomos parar nos porões do Dops, na avenida Afonso Pena. Mais tarde fui admitido como repórter no esporte do Diário de Minas.



Sai da frente


Não era fácil a vida de repórter esportivo com meu irmão ali na lateral-esquerda, posição que aceitou para jogar no time de cima, apesar do inconformismo do meu pai. “Que esperasse uma vaga no meio de campo, ora”, esbravejava. Beleza a vida de jogador: logo apareceu um Fusca novo, uma profusão de discos, roupas de grife, mulheres batiam à nossa porta.
Mocinhas de fino trato compareciam muito aos treinos, que eu cobria. Num deles, no Mineirão ainda em obras, uma lourinha roliça veio falar comigo. Digo melhor, assediar. Dizia-se fã do Warley e conversa vai, conversa vem, terminamos numa depressão do terreno lá fora do estádio. Logo estávamos enroscados, mas juro de pés juntos: não levei aquela aventura até o gol, apesar da oferta escancarada. Meu anjo da guarda estava de prontidão.
Fato é que, umas duas semanas depois, a lourinha surgiu no portão de casa e chamou meu pai. Contou que estava grávida e eu era o pai. Seu Alcides me chamou num canto. Confessei que dera uns amassos, nada mais. Então, com aquela cara de rottweiler rosnando, voltou ao portão:
-- Passa fora, menina. Não vem dar o golpe da barriga aqui não.
Nunca mais vi tal garota. Donde se conclui que essa história de maria-chuteira vem de muito longe, desde que o jogo é jogo.
Nos gramados Warley pontificava, o Atlético tinha um bom time e o Cruzeiro respeitava. Prova disso eram as entrevistas de seus jogadores antes dos clássicos de domingo. Numa delas, o repórter de rádio Dirceu Pereira perguntou ao centroavante Paulão quantos gols pretendia fazer no Atlético no jogo de domingo. Direto, no ar:
-- Sacumé, né Dirceu, a gente não pode contar com o ovo no c... da galinha.
Foras como esse a gente ouvia direto pelo rádio. O Cafunga, por exemplo: um dos maiores goleiros da história do Atlético tornara-se comentarista da rádio Guarani, na qual trabalhei também. Gostava de uma cervejinha, é verdade. O caso é que num Atlético e Cruzeiro houve uma tremenda confusão na área do Atlético e o locutor chamou o comentário do Cafunga:
-- Xiii, embucetou tudo ali na área.
Silêncio na cabine. Diante da perplexidade dos colegas ao lado, Cafunga tratou de aliviar:
-- Embucetou no bom sentido.  
 Na arquibancada meu pai oscilava entre a euforia e a depressão. De olhos esbugalhados, berrava e chutava o vento como se estivesse na lateral-esquerda. Pobre do correligionário atleticano que se sentasse à frente na arquibancada. Levaria um pontapé, depois um “desculpe” acompanhado de um tapinha no ombro. Os gritos não condiziam muito com o passado do elegante Zizinho da Nova Suíça:
-- Quebra a perna dele, Warley. E eu não falo? Tem de jogar no meio do campo, lateral precisa bater, sô!”
Mas o filho mantinha na lateral a mesma classe do centro-médio. Não era como os zagueiros do Atlético, que tinham como filosofia de vida bater da medalhinha para cima.
Sorte é que alguns juízes apitavam com o coração atleticano, como o Cidinho Bola Nossa e o Quinquim Carijó. Quando um becão nosso jogava um atacante adversário a três, quatro metros de altura, o Quinquim ou o Cidinho faziam o sinal de siga com a mão, joga o jogo, que futebol é pra homem.
Do outro lado, quando os zagueiros adversários chegavam perto de nossos atacantes, apitavam sem pestanejar, de preferência um pênalti. Afinal, futebol é pra homem – não para animais. Muito justo.
Ainda em 1965, pouco antes da inauguração do Mineirão, em setembro, o Cruzeiro começou a formar aquele timaço com Piazza, Zé Carlos, Dirceu Lopes, Natal, Tostão, Evaldo e Hílton Oliveira. E meu irmão Warley ali, na lateral do Atlético. O Cruzeiro já era então badalado, começaram a elogiar. Meu pai, não, e aí sobrava também para o meu lado:
-- O time deles é bonzinho, mas não é tudo isso que vocês da Imprensa falam, não. Dão é muita sorte, e ainda tem juiz roubando pra eles.
De fato. O leitor vai entender melhor a história neste relato do próprio Warley:
“Foi a primeira briga no Mineirão, inaugurado três anos antes, em 1965. O Atlético precisava do empate para ser campeão do returno e disputar o título com o Cruzeiro, campeão do turno. Aos 36 minutos do segundo tempo, o Décio Teixeira fez uma falta no Wilson Almeida, pelo menos um metro fora da área. (As tevês mostraram isso várias vezes nos dias seguintes). O juiz, o uruguaio Juan de La Passion Artez, conhecido cruzeirense, marcou pênalti. Os jogadores que estavam em campo, os que estavam no banco (entre eles, eu) e mais o Marcelo Guzela, diretor de futebol, partiram para cima do juiz. A PM entrou em campo para protegê-lo e fez uma barreira humana para que ninguém chegasse perto. Passei por trás do gol sem que a PM me visse e consegui chegar até o juiz. Dei-lhe um soco na boca e o sangue começou a jorrar. A PM passou a me perseguir, queria me prender. De chuteira na mão, corri para o vestiário, onde o Zé das Camisas me aconselhou a entrar num dos escaninhos. O Toninho “Catimba”, querendo me ajudar, trombou com um PM propositalmente, seu capacete caiu. O PM parou para pegá-lo e o Toninho saiu chutando-o como se fosse uma bola. A torcida foi ao delírio. Não sei como consegui entrar naquele escaninho tão pequeno para uma pessoa e me esconder. A  PM não me achou. Na semana seguinte, eu, o Buglê, o Vander e o Grapete fomos suspensos por nove meses. Os outros jogadores tiveram penas mais brandas. O pênalti não foi batido e o jogo acabou, pois o Atlético ficou sem número mínimo de jogadores para continuar a partida. E o Cruzeiro foi declarado campeão”.
Perceberam os leitores a maneira como o Cruzeiro conseguia seus títulos? Warley virou herói - fez o que todo atleticano gostaria de fazer: enfiar a mão no safado do uruguaio. 
Todos em casa queríamos conversar com Warley depois dos jogos. Ele, não, sabia que a cobrança seria dura (“porque não chutou aquele Natal para a arquibancada, meu filho?”) O lateral entrava sério pela copa, levantava as duas mãos e repetia:
-- Fura a bola, fura a bola.
Meu pai então colava o radinho no ouvido, não perdia um só programa de esportes. E lia todos os jornais no dia seguinte. Eu sabia que sobraria para mim depois de ler meu comentário no Diário de Minas:
-- Pô, seu irmão não jogou tão mal assim...
É, tinha isso, eu não refrescava nada.

Dois campeões
Se aquele timão do Cruzeiro foi campeão do Brasil em 1966, e ganhou a final contra o Santos de Pelé no Pacaembu, o Atlético deu o troco em 1971: primeiro campeão do Brasileirão, 1 a 0 no Botafogo, no Maracanã. Se eles tinham Tostão, tínhamos o Dadá Maravilha e ponto final.
A esta altura eu já estava em São Paulo, no Jornal da Tarde, e o Warley foi para os Estados Unidos com um grupo de jogadores mineiros. Salário magro (mil dólares por mês, mais casa, comida, roupa lavada e a passagem de ida e volta, pois nunca se sabe). Foram jogar no Fall River, representante de Massachusets no campeonato dos EUA. E completavam o salário trabalhando como garçons, em empresas de limpeza, auxiliares de cozinha, essas coisas. Levaram sonhos de riqueza e voltaram pobres. Hoje, qualquer perna-de-pau volta de bolso cheio. Nessa Warley levou vantagem, trouxe conhecimento: conseguiu uma espécie de estágio e por oito meses acompanhou um repórter mexicano que cobria sindicatos para o Boston Herald. Quando voltou, veio trabalhar no Estadão, onde ficou trinta anos.
Eu já não ia tanto a Belo Horizonte, mas ligava todo domingo à noite para a família. Ao falar com meu pai, era só queixume quando o time perdia:
-- Não me fale de futebol, filho, não quero falar de futebol. É um time fédaputa, com técnico fédaputa e uma diretoria fédaputa.
(O leitor há de perdoar a ousadia do palavrão. Mas se Garcia Marquez pode, com suas Putas Tristes, a memória de meu pai também pode).
Não queria, mas ele ficava de 15 a 20 minutos a falar de futebol, destilava ódio e sentia-se traído na sua paixão. O time melhorou muito algum tempo depois com Vantuir, Toninho Cerezo, Reinaldo, Ângelo, Paulo Isidoro e outros craques. Em 1977 fez a melhor campanha do Brasileirão, com nove pontos à frente do segundo colocado, o São Paulo: fariam a final dia 5 de março de 78 no Mineirão.
Na véspera, sábado, recebi a notícia de que minha mãe havia fraturado a perna num acidente doméstico. Voei para Belo Horizonte, mas foi irritante atravessar a cidade da Pampulha até o hospital Sara Kubistcheck, na avenida Amazonas. A torcida do Atlético já comemorava o título, carros com bandeira atleticana desfilavam numa correria desenfreada, fora o buzinaço de enlouquecer naquela noite. Do quarto do hospital ouvíamos aquele barulho infernal e meu pai previu:
-- Parece a final da Copa de 50. Esse negócio de comemorar antes dá um azar danado, sô.
Não deu outra: o São Paulo segurou o zero a zero até a prorrogação e ganhou nos pênaltis. Foi o famoso jogo em que o criminoso do Neca quebrou a perna do Ângelo; e o Chicão ainda pisou na perna quebrada. O juiz Arnaldo César Coelho “não viu nada”. Agora, sem caráter era o Atlético: contratou Chicão.
O Galo voltou a disputar o título do Brasileirão em 1980 e perdeu a final para o Flamengo.
Nos anos 2000 o time já vinha mal das pernas. Abandonou a política de formar jogadores em casa e passou a trazer mequetrefes de fora. Meu pai insistia:
-- Essa diretoria não vale nada.
Seu Alcides, nas noites de domingo, já abatido pela doença, parou de falar em futebol. Também, pudera. O Atlético quase caiu para a segunda divisão em 2004; em 2005 conseguiu. Disputou e ganhou a Série B de 2006 e a torcida comemorou como se fosse o título da Série A. Meu pai não faria isso.
Ele morreu dia 3 de junho de 2006, dez dias antes de completar 70 anos de casado. Era um homem fiel, e minha mãe correspondeu. O outro amor, o Galo, não.  
    
  

Capa Especial


A casa da ganância

Em ano de eleição, é bom lembrar de fatos antigos, com novos personagens, a história é a mesma:



A casa da ganância



A Câmara Municipal de Mogi das Cruzes raramente trabalha a favor do povo que a elege; são poucas as ideias para tentar melhorar a qualidade de vida dos cidadãos desta cidade. Basta uma olhada no conjunto da obra dos vereadores, ano a ano, para verificar que as senhoras e os senhores eleitos de forma democrática se empenharam muito mais na distribuição de títulos disso e daquilo, em dar nome de ruas e carimbar às vezes sem ler os projetos encaminhados pelo Executivo.
Com as exceções que confirmam a regra, a Câmara de Mogi é apenas um prédio em forma de pirâmide cortada ao meio, ou um deserto de homens e idéias. O seu recheio costuma ser vazio como pastel de vento. Como eles próprios reconhecem, o trabalho mais importante é prestar assistencialismo, que pode ser traduzido por clientelismo em troca de votos nas próximas eleições.
É a velha maldição da política velha que se multiplica, a maior responsável pelo atraso e pela miséria crescente do País, um tipo de mentalidade que sobrevive às custas do povo carente, sempre de boquinha aberta à espera das migalhas que caem da mesa farta dos políticos. Essa mesma política tacanha que se forma nos municípios é a que ocupará depois as assembléias, o Congresso Nacional e os principais cargos executivos para perpetuar os contrastes sociais e este enorme depósito de injustiças chamado Brasil.
As pessoas até fazem fila na Câmara para pedir emprego, implorar uma consulta médica ou os serviços de ambulância, todas essas coisas que os Executivos têm obrigação de fornecer e que os cidadãos desvalidos nem sabem. Democracia, para a parcela mais pobre e menos informada da população, se resume a esse tipo de mendicância, um jogo de camisa de futebol ou uma caneta vagabunda em troca de voto.
É por isso que o trabalho dos vereadores se assemelha ao de despachante de luxo, embora sem nenhum compromisso de entregar os serviços pelos quais são pagos. Mas os eleitos batem no peito, se dizem amigos do prefeito e dos secretários, se colocam à disposição para mandar tapar buraco de rua, conseguir uma consulta, asfalto ou uma lombada, trabalho sempre dirigido àqueles que lhes ajudaram na eleição. São apenas intermediários e oferecem promessas em troca de um grande futuro. Os seus próprios.
 Poucos se dão conta de que a responsabilidade da Câmara vai muito além de seus interesses mesquinhos e de sua clientela. São poucos também os que conhecem o significado da representação popular, conforme o aplicado nas democracias mais sérias e avançadas do mundo. Uma vez eleitos, deveriam voltar seu esforço para o conjunto da população, para o avanço da comunidade e pelo bem comum, além de fiscalizar e dar suporte necessário para que o Executivo exerça seu poder com mais equilíbrio e eficiência.
Não se pede, obviamente, que isto se traduza em oposição. Muito menos naquela oposição burra, sectária e ideológica de ser contra qualquer coisa só para dar uma satisfação aos eleitores, como Lula e o PT foram um dia. Pede-se seriedade, e isto quer dizer atenção aos projetos do Executivo, preparo para aperfeiçoá-los, além, é claro, de iniciativas para criar um conjunto de leis em benefício dos moradores. 
Em Mogi, talvez por carência intelectual ou deformação natural, bate-se o carimbo no que chega e pronto, está dada a moeda de troca de futuros favores, tipo balcão de negócios. Ora, a Prefeitura não produz a perfeição nem o prefeito Junji Abe pode se acreditar onisciente, onipresente e onipotente. Ao contrário, deveria ficar muito feliz se a Câmara fosse parceira confiável e trabalhasse em conjunto pelo bem da cidade, em vez de apenas dizer amém a tudo.
Mas seria pedir demais a uma Câmara Municipal que corteja a política velha, que adora mamar no dinheiro dos impostos da população sem lhe dar nada em troca além de demagogia barata, desse tipo de gente que trata o dinheiro público como se fosse propriedade particular.
A entrevista que publicamos ontem do novo presidente da Câmara, Rubens Benedito Fernandes, o Bibo do PP, é desalentadora. Traduz o velho na política, a ausência do espírito público despojado, e desfaz mais uma vez aquela ansiedade de ver os costumes políticos moralizados neste País.
O novo presidente da Câmara é a favor do quinto assessor para os vereadores. Provavelmente não entendeu o espírito da decisão do Judiciário, que pretendeu fazer uma economia para o povo ao reduzir o número de vereadores. Bibo ainda não consegue compreender que o povo brasileiro é pobre demais para sustentar uma politicalha tão cínica e abastada, especialmente em municípios como Mogi, onde a renda média do trabalhador é tão baixa.
Claro, ele também é a favor do aumento do próprio salário e quanto mais mordomia vier, pois foi eleito, junto com seus colegas, apenas para as delícias do poder. Não consegue perceber, o nobre vereador, que seus pouco mais de cinco mil votos não podem valer mais que a vontade dos 231 mil eleitores de Mogi. Portanto, deve abrir os olhos quando pensa legislar em causa própria, ou bolso próprio, sem nenhum respeito à entidade pública que passa a representar.
Neste momento em que a Prefeitura começa a dar exemplos de austeridade e busca economizar enquanto melhora a eficiência dos serviços para a população, o novo presidente da Câmara segue o caminho inverso e prega a gastança, como se o dinheiro de seus próprios eleitores não tivesse dono. 
Naquela Casa, alguns nomes mudaram, mas os costumes continuam velhos e gananciosos como sempre. E o jeito malufista de sobreviver na política assume o comando do negócio.
O povo de Mogi não merece.            

 

sexta-feira, 20 de abril de 2012

A vida é assim?

A VIDA É ASSIM? As olarias exploram o trabalho infantil nesta região, na fronteira de Mogi das Cruzes, Guararema e Santa Isabel, segundo comprovou a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Como se sabe, a exploração do trabalho infantil, em especial em locais insalubres como as olarias, violam todas as leis criadas com o objetivo de proteger as crianças. Nesse caso específico, está mais para trabalho escravo. Escreveu o menino: -- Meu trabalho na olaria é muito ruim, não dá para descansar e nem para brincar. O serviço é muito e no domingo não dá nem para brincar ou estudar. Os jornais publicaram que Carlos Henrique, de 9 anos, e seu irmão Luís Felipe, de 7, foram encontrados trabalhando em Santa Isabel. Os dois fecham e empilham sacos de tijolos. CHS pesa 25 quilos e maneja sacos com 12 quilos. Conta que recebe dois reais por 100 sacos lacrados, o que demora uma semana para fazer. Os dois trabalham com a família. César Augusto, de 12 anos, Aílton, de 14, e Edmílson, de 15, trabalham com a mãe numa olaria de Guararema. O pai trabalha numa fábrica próxima. Os garotos enchem as fôrmas de argila, desenformam e empilham os tijolos para secar e depois os colocam no forno. A família recebe seis reais por mil tijolos produzidos. A produção diária é de três mil tijolos. O milheiro de tijolos é vendido na região, sem frete, por cerca de 40 reais, publicou o jornal Diário de S. Paulo. Escreveu o menino: -- Nas aulas eu fico triste, a vida é assim, mas eu vou passar de ano. Eu gosto de tudo na escola, das aulas e das matérias. Mas quando vou embora tenho que trabalhar. Para a produção de tijolos é necessário que o terreno ofereça barro ou argila e lenha. O barro, retirado de cavas, geralmente é transportado em carrinho de mão, amassado com os pés ou ferramentas e colocado em fôrmas de madeira. O excesso é retirado com arcos de pau ou arame. Depois de secos - ficam de uma a duas semanas expostos ao sol - os tijolos são queimados em caieiras, fornos cavados em barrancos, de uma semana a dez dias. Algumas olarias possuem fornos de tijolos com paredes grossas e cobertura de telhas. Para amassar o barro usam pipas, construídas de madeira e movidas a animais que, amarrados, andam em círculos. A Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados informa que os meninos que trabalham nas olarias na região fazem de tudo um pouco. Bom negócio para os proprietários: crianças não têm Carteira de Trabalho, logo não recebem férias nem 13º salário, não custam um centavo sequer de encargos sociais. Mas produzem. Escreveu o menino: -- A escola é muito legal, tenho muitos amigos e não dá para viver trabalhando. Quando crescer eu vou ser um bom trabalhador. Vou em frente, ganhar meu dinheiro e comprar o arroz e o feijão e gostar dos meus filhos. O menino autor da carta, CASO, tem 12 anos e escreveu o texto para a escola. O professor percebeu a exploração e encaminhou em forma de denúncia para Brasília. A diretora da escola achou que o professor passou por cima da direção e lhe aplicou uma advertência. Afinal, a escola recebe uma ajuda da Prefeitura, não era bom jogar o nome da cidade na lama. Depois, o problema talvez nem seja de Guararema. O Conselho Tutelar de Guararema, que deveria zelar pelas crianças, acha que elas podem até morar na cidade, mas as olarias ficam em Santa Isabel ou Mogi das Cruzes. E então os Conselhos Tutelares passaram a examinar mapas cartográficos para saber com precisão qual a parte que lhes cabe nesse latifúndio. Como se a saúde e o futuro de meninos e meninas se limitassem a questão de fronteiras, um problema simplesmente geográfico. As crianças, por ora, não estão trabalhando. Foram retiradas estrategicamente pelos donos das olarias até que a poeira baixe. Alguém imagina que eles vão dispensar para sempre uma mão-de-obra boa e barata como essa? Como escreveu CASO, "nas aulas eu fico triste, mas a vida é assim". Donde se conclui que na cabeça dos proprietários das olarias, de honoráveis membros de Conselhos Tutelares, dirigentes de escola e burocratas municipais, muito provavelmente existe um pedaço de tijolo no lugar do cérebro. No tronco, outro pedaço ocupa o espaço do coração. (24/1/2003)

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Eu, Patrícia Martins, não sou jornalista, nem tenho esta pretensão. Sou formada em Administração de Empresas, com pós em Finanças e este ano concluo a licenciatura de Matemática.
Mas, como amo um jornalista, também amo ler e escrever. Tive esta ideia após conhecer os blogs de meus filhos.
Ainda tenho muito o que aprender desta ferramenta.

Abraços e até mais, por hoje encerro.







Uma montanha de dinheiro vai levar para fora do País uma serra do Complexo do Espinhaço e mais um pedaço do coração dos mineiros. É a continuação da história que vem desde a colonização, primeiro com a exploração de ouro e diamantes e se perpetuou depois com a fortuna gerada pela extração do minério de ferro, um dos principais itens da pauta de exportação do Brasil. A serra é a do Sapo, a 19 quilômetros de Conceição do Mato Dentro, junto à Serra do Cipó. Do outro lado fica Alvorada de Minas (3,6 mil habitantes). 
 
Conceição do Mato Dentro, porta de entrada do Circuito dos Diamantes. Ao fundo, a Serra da Ferrugem, extensão da Serra do Sapo: todas serão mineradas. - Luciano Ornelas
 
A invasão dos ingleses na cidade histórica de Minas Gerais (e parte importante do traçado da Estrada Real), a 167 quilômetros de Belo Horizonte, começou em 2008, quando a Anglo American assumiu 100% do projeto antes assim dividido: 51% do empresário Eike Batista, 49% da empresa inglesa, que comprou também a parte do brasileiro no maior mineroduto do mundo – 525 quilômetros de Conceição ao porto do Açu, no Rio de Janeiro. Criou assim a Unidade de Negócios Minério de Ferro do Brasil (Anglo Ferrous Brazil), o sistema Minas-Rio, maior investimento mundial da Anglo, que opera em 30 países.
 
Estão sendo investidos US$ 5 bilhões; por enquanto, instala-se apenas a usina de beneficiamento. A exploração do minério e o escoamento pelo mineroduto devem começar no segundo semestre de 2013. A capacidade de produção é de 26,5 milhões de toneladas anuais – e tudo para exportação, grande parte para a China. A qualidade do minério é alta  – premium (segundo descobriu a empresa de Eike Batista),  com teor de ferro acima de 67%, em uma reserva de 5,8 bilhões de toneladas  – mais de dois séculos para se esgotar, mantida a capacidade de produção atual. 
 
As obras da usina de beneficiamento: tiradas as impurezas, as polpas serão transportadas daí para o porto do Açu. - Paulo Arumaa/Divulgação
Futuro de ferro e ouro
 
Em apenas quatro anos, o empreendimento mudou inteiramente a vida de Conceição do Mato Dentro, município de 18 mil habitantes (11 mil na área urbana), que nos seus 310 anos sempre se sustentou do comércio, da agricultura de subsistência e do ecoturismo. A cidade está dividida entre os que levantam as mãos aos céus pela chegada do progresso e da riqueza; outros, com um olhar mais crítico, veem a cidade quase destruída, em grande parte pelo impacto da chegada da mineradora.
 
Alguns grupos – como a Associação Unidos por Conceição ou o Movimento pelas Serras e Águas de Minas – temem que a história e a tradição sejam engolidas pela poeira do minério. Temem, enfim, que Conceição se transforme em uma Itabira, a 195 quilômetros dali e também explorada por mineradoras. É a terra do poeta Carlos Drummond de Andrade, para quem a cidade virou apenas uma fotografia na parede. Como lamentou em seu poema "Confidência do Itabirano": 
 
É aí que se vai um pedaço do coração. Que o diga a jornalista Déborah Rajão, da Rádio Inconfidência de Belo Horizonte: "Como conceicionense, sinto uma grande tristeza ao ver nosso município novamente invadido pelos exploradores, com a conivência do Estado. Temos uma população acuada, a cidade perdeu suas características. Se tivesse uma varinha mágica, retiraria dali a exploração de minério para preservar para sempre nossas serras, nossas águas e demais riquezas ambientais."
 
A pequena Conceição está mesmo em uma situação complicada: coberta de poeira, ruas de pedra (como todas as cidades históricas) esburacadas e os casarões coloniais em petição de miséria, a começar pela sede da Prefeitura e a igreja matriz. A delegacia teve de ser desativada e os presos transferidos para outras cidades: ameaça desabar de tanta rachadura. De fato, caminhões pesados, picapes cabine dupla e vans da Anglo promovem um trança-trança sem parar pela cidade. Mas não se deve atribuir todos os males à mineradora. Afinal, esta cidade teve sete prefeitos em apenas três anos. E o motivo é o de sempre: a corrupção endêmica da política brasileira.
 
Política à parte, o futuro é de ouro e a fortuna chegou, como mostra a vereadora Flávia Magalhães Costa (PMDB): a receita do município era de R$ 13 milhões/ano antes da chegada da mineradora e suas terceirizadas. No ano passado, em função do ISS, dobrou para R$ 26 milhões; e a previsão para este ano é de R$ 34 milhões. A partir da exploração do minério, a Anglo começará a pagar também royalties de 2%. A receita subirá para mais de R$ 200 milhões/ano. E pode ser muito mais, caso o Congresso aprove um projeto de lei do ex-prefeito e ex-deputado federal José Fernando Aparecido de Oliveira, que eleva esses royalties para 4%. 
 
Nunca circulou tanto dinheiro pela região, embora tenha de ser administrado pela Prefeitura. Como diz Flávia Costa, a eleição deste ano "será a mais importante da vida de Conceição". Aí não custa reza brava, sal grosso e ramo de arruda: os eleitores erraram feio em suas últimas escolhas.
 
Longa, vagarosa viagem
As obras do mineroduto, a cargo da Camargo Correa, estão bem avançadas e passam por 32 municípios (25 mineiros e sete fluminenses). A polpa do minério será transportada por uma tubulação de 24 a 26 polegadas, instalada em valas e coberta por terra.
 
Funciona assim: uma estação de bombas dará o primeiro empurrão em Conceição do Mato Dentro; outra em Santo Antônio do Grama (MG) dará o segundo para a carga atravessar a Serra da Mantiqueira. E a Estação de Válvulas (Tombos, MG), reduzirá a velocidade na descida da serra. Tudo isso a sete quilômetros por hora (média), em uma viagem de pouco mais de três dias.
 
No superporto do Açu volta ao que era antes: 51% do empresário Eike Batista e 49% da Anglo American. Ali os investimentos serão de US$ 40 bilhões e Batista sonha alto, como sempre: em uma área de 90 quilômetros quadrados, devem ser instaladas também duas siderúrgicas, um estaleiro, indústria de automóveis e empresas de logística para o petróleo, na fase do pré-sal. 
 
A resistência mineira
Apesar do apoio do governo de Minas (gestão Aécio Neves) ao projeto, muitos moradores não se conformam e divulgam pareceres com todos os impactos negativos. Um deles, de posse da própria Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas, revela: "Um dos impactos mais significativos sobre os recursos hídricos superficiais é a captação de água nova no rio do Peixe, no município de Dom Joaquim. A água será utilizada no processo de beneficiamento do minério e para a condução da polpa no mineroduto, correspondendo a uma vazão total de 2.500m³/h, equivalente ao abastecimento de água para uma cidade de aproximadamente 200 mil habitantes". 
 
Bem, é a resistência de moradores do pequeno município ao poder do Estado, aliado a uma das maiores mineradoras do mundo. E sua arma principal é a internet.
 
A terra dos sete prefeitos. Ou de nenhum
 
José Aparecido de Oliveira nasceu em Conceição do Mato Dentro e se tornou um homem importante na história do País: de jornalista a chefe de gabinete na Prefeitura de Belo Horizonte, deputado federal em dois mandatos (1963-1967/1983-1987), ex-governador do Distrito Federal (1985-1987), ministro da Cultura no governo Sarney e embaixador em Portugal. Um conciliador, chamado de "O amigo Zé". Morreu em 2007 aos 78 anos. Seu filho José Fernando Aparecido de Oliveira herdou a veia: prefeito de Conceição pelo PMDB de 2001 a 2005 e de 2005 a 2006, quando se elegeu deputado federal. Em 2010 se candidatou ao governo de Minas pelo PV e perdeu. Mas, depois de sua passagem pela Prefeitura, veio o dilúvio,  triste sequência:
 
1 –Em 2008, o eleito Breno Costa (DEM) foi cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral por irregularidades em seu mandato anterior, de 1992 a 1996. Toda a chapa foi cassada. 
2 -Assumiu a presidente da Câmara, Nelma Lúcia Cirino de Carvalho (PP).
3– Em 2010, nova eleição. O filho do prefeito cassado, Breno Júnior, foi eleito, mas nem assumiu, em razão do parentesco, proibido por lei. Assumiu novamente Nelma Carvalho, que se afastou em novembro de 2010 para se candidatar em fevereiro de 2011.
4 – Assumiu o vice-presidente da Câmara, Ildeu Simões.
5 – Antônio José da Silva, eleito presidente da Câmara, assumiu a Prefeitura de janeiro de 2010 a fevereiro de 2011.
6 – Nelma Carvalho foi eleita em fevereiro de 2011 e ficou até janeiro deste ano; foi cassada pela Câmara por improbidade administrativa.
7 – Assumiu o vice, Reinaldo da Silva Guimarães, até a posse do novo prefeito. Mas é só uma hipótese. Afinal, isto é Conceição do Mato Dentro.
 
Sete ou seis prefeitos? Alguns tiram dessa conta o filho de Breno Costa, que nem chegou a assumir. Até agora, não há nenhum candidato declarado à Prefeitura.